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09 fevereiro 2023

Uma mãe e modelo de um amor formoso para ti!

Tempo de leitura: 10 min
Depois de termos escrito sobre a Cruz Peregrina – o primeiro símbolo de todas as edições da JMJ – vamos ao encontro do outro símbolo que o Papa João Paulo II entregou aos jovens para que, ambos chegassem aos corações de milhões de jovens: o ícone mariano Salus Populi Romani.
P. Filipe Resende
Missionário comboniano
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(© JMJLisboa2023.org)

 

No palco montado na esplanada do Parque Tor Vergata para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) do ano 2000 em Roma, apareceu um símbolo adicional àquele da Cruz peregrina que acompanha cada edição da JMJ pelo mundo: o ícone Salus Populi Romani (que traduzido do latim seria «Salvação do Povo Romano»). O que tem de particular este ícone que faz parte dos símbolos da JMJ que percorrem o mundo e, desde o ano passado, as nossas dioceses em preparação à JMJ Lisboa 2023? Que terá algo «romano» a ver com o resto do mundo? É esse significado que te explicamos.

O ícone Salus Populi Romani

O ícone mariano é uma réplica da pintura mantida na Capela Paulina da Basílica de Santa Maria Maior em Roma. Por desejo de Paulo V, este antigo ícone Salus Populi Romani foi colocado na capela de família, a Capela Paulina, em 1613, dentro da basílica romana. O Papa Francisco visita esta basílica e reza diante deste ícone antes e depois de cada uma das suas viagens apostólicas.

A tradição diz que este ícone original terá sido pintado nem mais nem menos que pelo próprio evangelista São Lucas há cerca de 2000 anos. Este ícone tem sido ao longo de muitos séculos, especialmente para o povo de Roma, sinal de protecção e de amor de Deus, expresso no cuidado de uma Mãe – a de Jesus, Maria! É antigo o costume de o levar em procissão pelas ruas de Roma, para afastar perigos e desgraças ou pôr fim a pestes. A este propósito recordemos mais recentemente a impressionante e extraordinária bênção do Papa Francisco ao mundo (Urbi et Orbi) a partir da despida e vazia Praça de S. Pedro em Roma no dia 27 de Março de 2020: uma bênção a um mundo parado pela pandemia da covid! Nesse dia, o ícone foi trazido para a celebração na Praça de São Pedro. Ali, o Papa Francisco rezou e encomendou o mundo à intercessão de Maria junto do Seu Filho que Ela cuidou e carregou nos seus braços.

A intuição de João Paulo II: uma Mãe para os jovens

Em 2003, João Paulo II quis que este sinal de amor e cuidado de Deus expresso pela Mãe Maria fosse levado a todo o mundo justamente e juntamente com o símbolo da Cruz Peregrina. Mas havia uma intuição neste gesto do papa: queria que os jovens sentissem aquilo que nos disse o Papa Francisco uns anos mais tarde em Fátima quando visitou este santuário: «Temos Mãe!»

No dia 13 de Abril de 2003, o Papa São João Paulo II entregava os símbolos da JMJ aos jovens que iriam preparar a JMJ de 2005 em Colónia, na Alemanha. E pela primeira vez juntou à Cruz Peregrina o ícone Salus Populi Romani – com 1,20 metros de altura e 80 centímetros de largura, um tamanho idêntico ao seu original. Era Domingo de Ramos porque nesses tempos se celebrava a nível diocesano a JMJ em todo o mundo neste domingo antes da Páscoa. Depois da Missa na Praça São Pedro, o Papa João Paulo II apresenta-se com um grupo de jovens alemães que estão prontos para receber a Cruz da JMJ. Nos dois anos seguintes, os ícones fizeram uma caminhada de preparação para o grande encontro de Colónia em 2005. No final da oração do ângelus, o papa dá o anúncio: «À delegação vinda da Alemanha entrego o Ícone de Maria. Daqui em diante, junto com a Cruz, ele acompanhará as Jornadas Mundiais da Juventude. Eis a tua Mãe! Será sinal da presença materna de Maria ao lado dos jovens, chamados, como o apóstolo João, a acolhê-la na sua vida.» E no final da oração do ângelus nesse dia acrescentou: «A Cruz de Cristo vos indique o caminho da vida, nas opções, por vezes difíceis, da mesma vida, e a Mãe Santíssima seja para vós o modelo do amor formoso. “Eis a tua Mãe”. Confiemos à Mãe do Céu as esperanças e o futuro dos jovens de todas as partes do mundo.»

 

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(© JMJLisboa2023.org)

 

Uma Mãe ao lado dos jovens convidados a acolhê-la na sua vida

Estava assim dada qual a intenção e intuição do papa ao ter este gesto de fazer acompanhar a Cruz por este ícone mariano. Os jovens que recebem o símbolo de Maria Salus Populi Romani ficam assim a saber que têm uma Mãe. Uma Mãe que olha por eles, que lhes quer bem, que cuida deles e que, tal como no ícone, os quer levar nos braços e, com um amor formoso, os quer ver felizes e protegidos de tantos desvios e perigos a que tantas vezes estão expostos nas suas vidas.

Tal como Jesus fez com São João, ali ao lado da cruz com Maria, o Papa João Paulo II queria propor aos jovens neste gesto que eles acolham Maria em sua casa (cf. Jo 19, 25-27). O que é que quer dizer esse acolher Maria em minha casa? E como posso acolher Maria em minha casa? Vejamos algumas formas de como o podemos fazer.

1. Acolher Maria na minha vida: talvez não signifique tanto andar com um escapulário de Maria ao pescoço, o terço ou mesmo uma pagela de Maria no meu livro de orações! É comum encontrar cristãos muito devotos de Maria ou Nossa Senhora de Fátima, de devoções marianas pouco ortodoxas, mas sem vida comunitária nas suas paróquias ou mesmo sem vida sacramental. Não é isso que significa acolher Maria na minha vida.

Acolher Maria na nossa vida significa olhar para a vida de Maria, que contemplava todas as coisas no seu coração, e fazer como Ela: escutar e aprender com o Seu Filho todos os dias. E depois procurar que as atitudes da Mãe de Jesus sejam também as minhas concretizadas nos gestos e decisões da minha vida de todos os dias.

2. Acolher Maria na minha intimidade: também não estamos aqui a referir-nos a coisas ocultas ou revelações extraordinárias… Acolher Maria na minha intimidade significa ter os mesmo sentimentos e atitudes de Maria na minha vida: disponibilidade a colaborar no projecto de Deus mesmo quando não o compreendemos; atitude de abertura e escuta para perceber e aprender o que Deus me está a dizer e mostrar de diferente, meditando todas essas coisas no meu coração, como Maria!

3. Acolher Maria no que tenho de mais valioso: para Maria, o mais valioso que tinha era o Seu Filho! Mas não reclamava para si atenções por Ela ser a mãe daquele Homem que tocava os corações de tanta gente! Maria nunca quis tomar para si a luz dos holofotes. Pelo contrário, levava todos ao que Ela tinha de mais valioso: o seu Filho Jesus. Por isso disse aos serventes nas bodas de Caná: «Fazei tudo o que Ele vos disser!» (Jo 2, 1-11).

Olhar para a Mãe

Há uma particularidade rara nesta pintura Salus Populi Romani que eu só percebi quando tive a oportunidade de recentemente ficar várias horas em vigília diante dos símbolos da JMJ na sua peregrinação à diocese do Porto. No passado mês de Outubro, tivemos a graça de receber os símbolos e ficar com eles no Centro Vocacional Juvenil dos Missionários Combonianos da Maia uma noite inteira. Reparei, então, num aspecto muito interessante: nesta imagem, será talvez uma das poucas no mundo, é o Menino que olha para a Mãe! Aqui, inverte-se o que vemos aos pés da cruz! Aqui não é Maria que olha para o Seu Filho suspenso na Cruz, mas sim o Menino que nos convida a, como Ele, olhar para a Mãe e aprender dela para chegar a Ele! É esse o convite que nos é lançado ao receber e venerar os símbolos da JMJ!

Que Maria seja sempre para todos nós uma Mãe, um modelo de um Amor formoso que Jesus nos revelou do Pai nos Evangelhos! E nada nos distraia ou desvie desse Amor… porque essa é a nossa vida e a nossa vocação universal cristã!  

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