Opinião
10 setembro 2024

A guerra esquecida do Sudão

Tempo de leitura: 4 min
Sem perder a esperança, e levantando a nossa prece a Deus, sonhamos com um futuro melhor para o povo do Sudão.
Bernardino Frutuoso
Director
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Neste número da Além-Mar damos um grande destaque ao drama que está a viver o Sudão (páginas 32-43), envolvido num conflito esquecido, devastador e pouco mediatizado.

A guerra civil começou no dia 15 de Abril de 2023 com confrontos em Cartum, a capital do Sudão, entre o Exército sudanês e as Forças de Acção Rápida (RSF). As duas forças lutam pelo controlo do poder no país. O conflito já fez mais de 15 mil mortos e 8,6 milhões de deslocados e refugiados; 24,8 milhões de sudaneses enfrentam insegurança alimentar e, sem ajuda internacional, um milhão de pessoas poderão morrer de fome este ano.

Um ano depois do início do conflito, em Abril passado, as Nações Unidas organizaram a conferência internacional do Sudão em Paris, procurando chamar a atenção para uma das maiores catástrofes humanas no planeta. António Guterres, secretário-geral da ONU, lembrou que, por estar com a atenção centrada nas tensões no Médio Oriente, o mundo «se está a esquecer do povo do Sudão». O diplomata português sublinhou que esta «é uma guerra contra os muitos milhares de civis que foram mortos e dezenas de milhares de mutilados para o resto da vida. É uma guerra contra os direitos humanos e o direito humanitário internacional». Da conferência resultaram as promessas de ajuda no valor de dois mil milhões de euros, mas ainda falta muito para os obter. 

Na declaração final, os participantes na conferência – co-presidida pela Alemanha, França e União Europeia – instaram as partes em conflito a porem termo às violações dos direitos humanos e a permitirem o acesso da ajuda humanitária. Um apelo que não foi ouvido. Percebe-se que nenhum dos grupos armados está disponível para conversar, alcançar um cessar-fogo e traçar um caminho para a paz. Pelo contrário, em Maio, milícias do Darfur que se tinham mantido neutrais desde o princípio do conflito decidiram apoiar o Exército e os combates estenderam-se também a El-Fasher, a capital do Darfur do Norte, a única cidade desse Estado que tinha escapado aos horrores da guerra. 

Sabemos que o país é rico em recursos naturais, nomeadamente urânio e ouro, e as potências estrangeiras, interessadas em explorar esses recursos, financiam os grupos envolvidos na guerra. Numa entrevista ao jornal Público, a investigadora Daniela Nascimento, professora da Universidade de Coimbra, especialista no Sudão, sublinhava, precisamente, que o conflito «está a ser apoiado a partir de fora»: «Temos a Arábia Saudita envolvida, temos o Qatar, os Emirados Árabes Unidos. Temos, por outro lado, as Forças de Apoio Rápido a serem apoiadas no terreno pelo Grupo Wagner, tendo como contrapartida o acesso às minas de ouro do Sudão.»

Apesar desta situação dramática, os missionários continuam o seu labor evangelizador no país. Os Missionários Combonianos e outros religiosos foram obrigados a deixar as suas missões e obras. Em Cartum, como refere o padre Jorge Naranjo, destruíram grande parte da cidade e o Comboni College (Universidade dos Combonianos) deixou de funcionar nas suas instalações e mudou-se para Porto-Sudão, no mar Vermelho, com aulas que se fazem sobretudo em modalidade virtual.

Sem perder a esperança, e levantando a nossa prece a Deus, sonhamos com um futuro melhor para o povo do Sudão.   

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Editorial
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EDIÇÃO
Outubro 2024 - nº 750
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